Tendências de futuro e as necessidades dos empreendedores rurais são a inspiração para novas soluções nacionais
O Sebrae-SC promoveu, na última semana, o Encontro Estadual de Gestores do Agronegócio e Alimentos e Bebidas, no Centro de Inovação ACATE Deatec/Centro Executivo E.T. Renovável, em Chapecó (SC). O objetivo foi capacitar os profissionais para que possam estruturar bons projetos, que subsidiem de informações e indicadores para avaliar o desempenho dos negócios atendidos. O evento reuniu aproximadamente 30 participantes, entre diretores, gestores de projetos e analistas de negócios.
Segundo o vice-presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-SC, Antônio Marcos Pagani de Souza, Santa Catarina é um estado pequeno em área territorial, porém muito organizado no agronegócio. “Temos muito orgulho desse setor, principalmente, da região oeste catarinense que conta com pequenas propriedades muito produtivas, sem dúvida temos aqui um exemplo nacional de produção de alimentos”, enfatiza ao explicar a proposta do Encontro em identificar as necessidades de cada região para avançar em projetos que incentivem o desenvolvimento.
O diretor técnico do Sebrae/SC, Fábio Búrigo Zanuzzi, explica que no início deste ano foi realizado um diagnóstico para verificar a atuação da entidade em todo o território catarinense. “Percebemos que muitos projetos setoriais estavam sendo implementados via atendimento individual. A partir disso, propomos a criação da Gerência de Competitividade Setorial, que é responsável por fazer o planejamento desses projetos. Porque temos um grande número de ações individuais, porém precisamos estruturá-las de maneira mais adequada”, complementa. Zanuzzi afirma que a intenção é conhecer as vocações dos territórios para, posteriormente, estudar, planejar e desenvolver um projeto setorial.
O evento também destacou a ovinocaprinocultura catarinense, que se diferencia no cenário nacional pela qualidade dos produtos, mão de obra familiar comprometida e cortes adequados. No entanto, o setor ainda enfrenta desafios significativos que precisam ser superados para alcançar seu pleno potencial. Paulo Gregianin, tecnólogo em agronegócio e consultor da Secretaria de Agricultura de SC, detalhou a situação atual da ovinocaprinocultura no estado.
A região oeste concentra 47,6% do rebanho de ovinos, mas enfrenta problemas estruturais, falta de escala para frigoríficos e um abate informal superior a 90%. “É fundamental estruturar um projeto com ações de curto, médio e longo prazo para escalar o desenvolvimento da cadeia produtiva”, afirmou Gregianin. Ele destacou a necessidade de um sistema produtivo integrado, assistência técnica capacitada e uma governança sólida.
Gargalos da Agroindústria
O empresário e produtor rural do Frigorífico Guatapará, Dagoberto Toledo, discutiu os desafios da industrialização do setor, que ainda é muito recente em Santa Catarina. Ele apontou a concorrência desleal com a carne importada do Uruguai, que, apesar de sua baixa qualidade, tem um preço atraente para o consumidor.
Para Dagorberto o principal obstáculo que precisa ser imediatamente superado é o marketing para divulgar estrategicamente o setor. “Precisamos tirar o produto do espeto no fim de semana e colocá-lo na panela da dona de casa durante a semana. Atualmente o consumo está muito atrelado as festividades”, explicou.
Como estratégias de comunicação para incentivar o consumo da carne foi citado o preparo de pratos, tipos de temperos que podem ser utilizados, acompanhamentos indicados, bebidas que podem harmonizar com a proteína, oficina culinária e divulgação de pratos de cordeiros em feiras setoriais.
Já a analista de dados do Observatório Sebrae/SC, Amanda Maciel da Silva, apresentou uma análise detalhada das principais cadeias produtivas de Santa Catarina, incluindo o panorama internacional e nacional, o número de empresas ativas, serviços oferecidos, empregos gerados e valor da produção. Amanda também destacou tendências futuras para o agronegócio, como sustentabilidade, adaptação às mudanças climáticas e intensificação tecnológica.
Fortalecimento dos pequenos negócios
“O planeta terá condições de alimentar todas as pessoas?” Essa foi uma das reflexões propostas pelo coordenador do Polo Sebrae Agro, Douglas Paranahyba de Abreu, nesta semana, durante o Encontro Estadual de Gestores do Agronegócio, Alimentos e Bebidas, promovido pelo Sebrae/SC, no Centro de Inovação ACATE Deatec/Centro Executivo E.T. Renovável, em Chapecó. O evento reuniu aproximadamente 30 participantes, entre diretores, gestores de projetos e analistas de negócios da entidade, além de instituições parceiras e empreendedores convidados.
Douglas apresentou indicadores e estimativas do crescimento populacional para enaltecer a importância do Brasil como player mundial na produção de alimentos, uma vez que estudos realizados em 2010 já apontavam a contribuição de 41% do país para suportar essa demanda. “As previsões destacam avanços significativos das commodities, exemplo disso é a soja, no qual somos o maior produtor mundial e sua produção representa cerca de 30% do Valor Bruto da Agropecuária Brasileira. Mas, também, devemos destacar as exportações de suco de laranja, café, açúcar, milho, carne de bovinos, suínos e aves”, explicou.
Mesmo com esse cenário promissor para o Brasil, no qual são 5 milhões de estabelecimentos rurais brasileiros que alimentam 800 milhões de pessoas, a concentração dessa produção é preocupante. Menos de 10% dessas propriedades correspondem a mais de 90% do que é produzido nacionalmente. “Apesar de ser um grande país produtor/exportador de produtos do agronegócio, enfrenta o que chamamos de desafio do século, pois, temos uma pequena quantidade de grandes produtores que representam a maior parte do valor do agro brasileiro e uma grande quantidade de pequenos negócios que ainda não conseguiram aferir lucros significativos ao longo da história do desenvolvimento desse setor”, argumentou.
Para Douglas, o Sebrae ingressa estrategicamente nesse ponto para fortalecer os pequenos negócios e tentar evitar a saída massiva ou falência desses empreendedores rurais, que estão em áreas cada vez mais competitivas e com tecnologia pujante. “Precisamos apoiá-los para que consigam acessar novos mercados. O Polo Sebrae Agro, iniciou em março de 2022, com a intenção de fortalecer o trabalho em rede, criar soluções a partir das tendências de futuro e das necessidades dos pequenos negócios rurais. Com trabalho em rede economizamos esforços, aumentamos o nível de cooperação e disseminamos as melhores práticas e os projetos de maior impacto”, explicou.
Foto: Gestores de Agronegócio, Alimentos e Bebidas do Sebrae SC
Iniciativa
O Polo Sebrae Agro conecta instituições e programas, simplificando complexidades. A atuação e sistematização de informações via plataforma web, garante acesso simultâneo e irrestrito. Sua estrutura é dividida em Núcleo Estratégico, Núcleo Executivo e Núcleo de Especialistas. Os eixos de atuação são curadoria (mapeamento das soluções agro), disseminações de informações e desenvolvimento de soluções. Como exemplos de projetos elaborados, Douglas citou: Sebrae Horti-Fruti: fortalecendo a comercialização de micro e pequenas empresas; Agro NetZero: balanço de carbono em pequenas propriedades rurais e Juntos Pelo Agro: Metodologia para atuação conjunta no agro entre Sebrae e Senar.
Douglas também enalteceu os conteúdos de inteligência competitiva disponíveis como: caderno de tendências, relatórios de inteligência, potencial de mercado, boletim de tendências, caso de sucesso, fala especialista e pesquisa de redes sociais. “São mais de 70 publicações, que podem ser pesquisadas por segmento”, reforçou. No site https://polosebraeagro.sebrae.com.br/ também é possível acessar as Indicações Geográficas Brasileiras (por estado, tipo de produto, modalidade – denominação de origem ou indicação de procedência) e as startups do agro (por estado ou área de atuação).
Balanço de carbono
O coordenador do Polo Sebrae Agro também abordou a solicitação de Santa Catarina, realizada há dois anos, para a elaboração de uma solução voltada para o inventário de gás de efeito estufa de pequenas propriedades rurais. “Naquele primeiro momento não conseguíamos enxergar, de fato, a relevância nacional e até global porque entendíamos que o produtor rural tinha outros desafios mais emergentes, como colocar dinheiro no bolso para depois pensar em estratégias de sustentabilidade. Porém, ao analisar o trabalho já desenvolvido no território entendemos que a partir de parcerias de mercado com empresas que compram desses produtores é possível viabilizar a solução e não, necessariamente, onerar o produtor rural”, relatou.
Neste momento, segundo Douglas, a solução é realizada nos seis biomas brasileiros. A intenção é ao longo do segundo semestre deste ano, o Polo Sebrae Agro entregue os resultados de uma metodologia já consolidada a partir de parceiros nacionais de credibilidade, tanto do setor público, quanto do setor privado e do Sistema S. “Nosso interesse é lançar, se assim os resultados nos permitirem, uma grande ferramenta de mensuração das emissões e sequestros de Gases de Efeito Estufa da agricultura tropical brasileira, em 2025, na COP 30, que ocorrerá no Pará”, finalizou.
Fonte: Comunicação Sebrae SC